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Secretaria de Comunicação |
Salvador, 13 de Junho de 2035
A Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Agência Horizonte, vem a público esclarecer que as informações recentemente divulgadas por meios não oficiais e anônimos não condizem com a realidade dos fatos.
As insinuações de uso indevido de dados da população, supostas manipulações ou qualquer forma de controle social são infundadas e irresponsáveis, e tentam sabotar um projeto de cidade inovadora que está sendo construído com base na tecnologia, inclusão e eficiência.
Reafirmamos nosso compromisso com uma Salvador mais segura, mais inteligente e mais humana.
Toda forma de desinformação será investigada e responsabilizada conforme as novas diretrizes da Lei de Comunicação Digital Segura.
Tentativas de instigar desordem, espalhar boatos ou desacreditar a evolução da cidade serão consideradas atos contra o progresso.
Salvador está avançando.
E quem tenta impedir esse avanço, está atrasando o futuro.
Prefeitura de Salvador
Secretaria de Comunicação
Agência Horizonte
15 de Junho de 2035 – Barra, Condomínio Alto Mar
A cobertura de Paolo Fonseca era silenciosa demais para um homem que se dizia amado por milhões, Do alto do 25º andar, ele observava a cidade que dizia ter reconstruído que agora estava inquieta, a luz das janelas piscavam como olhos espiando.
— Eles sabem demais, como vocês incompetentes deixaram isso acontecer? – ele disse seco, girando lentamente seu copo de uísque
O assessor ao lado tentava fingir calma, mas a tela do tablet tremia em suas mãos.
— A matéria não tem fonte, é só uma narrativa conspiratória e nós já reagimos com a nota
— Não é só sobre a nota, é sobre a rua. A rua está desconfiada e quando o povo da rua começa a pensar, a coisa escapa do nosso controle
Paolo estava visivelmente nervoso e andava de um lado a outro em seu escritório, ele estava começando a enfrentar uma crise política, a imagem perfeita que ele construiu com tanto cuidado, com a venda da vida perfeita, influencers pagos e artistas convertidos estava começando a rachar e ele sabia o que isso significava: perder o controle da cidade.
A alguns quilômetros dali no mesmo momento Carla Fonseca fazia uma live ao pôr do sol, no Farol da Barra.
— Galera, olha só... tanta coisa sendo dita por aí, né? Mas a gente não pode esquecer que Salvador tá diferente pra melhor, a gente tá vendo mais segurança, mais tecnologia, mais ordem... e quem tá contra isso, sinceramente, tá nadando contra a maré.
Os comentários pulavam rápido na tela:
“Linda, disse tudo”
“Confio em você, Carla”
“Essa oposição quer é caos!”
Carla sorria falsamente, mas de forma discreta. Porque horas antes ela foi chamada por Paolo para uma conversa a portas fechadas.
— Você acha que isso tudo vai segurar as pessoas por quanto tempo?
Seu Instagram não vai silenciar o que está vindo aí – Paolo disse nervoso
— O que você quer que eu faça, pai? Que eu diga que a gente mentiu? – Carla pergunta meio alterada
— Quero que você mantenha o teatro até o fim. É isso ou a gente afunda junto. — Paolo disse a encarando de forma séria
Carla sabia que estava presa no espetáculo que ajudou a construir, Ela era o rosto bonito da cidade controlada mas agora, as máscaras começavam a rachar.
Na agência Glória sentia a pressão aumentar a vigilância apertava, os olhares nos corredores da agência eram mais desconfiados, as rotinas eram alteradas com mais rigidez, mas ela sorria com os olhos e estava confiante por dentro, a matéria surtiu efeito, o governo reagiu e a população começava a acordar.
Naquele dia mais tarde em sua casa, estava buscando fontes para uma nova matéria quando de repente recebeu uma resposta do grupo Axé.zip com uma única frase:
“Os arquivos serão descriptografados em breve. Prepare-se.”
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