O sol voltou a nascer sobre a cidade, mas Salvador não era mais a mesma, as ruas do Pelourinho ainda carregavam os rastros do silêncio, os postes continuavam de pé mesmo depois da remoção dos sensores, algumas câmeras desativadas permaneciam presas às esquinas como cicatrizes de uma era recente.
Desde a queda de Paolo e a prisão de Carla Fonseca, a cidade foi tomada por processos de reconstrução política, tecnológica, simbólica. Alguns dos sistemas instalados pelo antigo governo foram convertidos em redes comunitárias e outros abandonados.
A cultura que antes era vigiada, agora voltou a ocupar os becos, os teatros e os terreiros. Os jornais reabriram suas redações, a rádio comunitária do subúrbio voltou ao ar e estudantes organizaram festivais culturais nas escolas.
E embora muitos quisessem transformar Glória Franco em símbolo oficial da nova fase da cidade, ela recusou entrevistas, medalhas e qualquer cargo público, Ela dizia que símbolo bom é o que continua com o povo.
Seu nome havia vazado como a fundadora do Olhos da Verdade.
E agora ela era idolatrada e respeitada, mas não como alguém em uma posição de poder, mas como a primeira pessoa que teve coragem de escrever mesmo quando ninguém mais podia ler. Alguns ainda duvidam que foi ela, outros juram que viram sua assinatura escondida em arquivos da resistência, mas o que todos sabem é: Glória voltou a escrever, agora com nome e rosto, ela publica semanalmente em um jornal independente, ao lado de outros jovens repórteres.
No topo do novo site da redação, há uma frase que já circulou pelo subterrâneo da cidade:
“Quando a cultura virou ameaça, a verdade virou arma"
E para finalizar de uma vez por todas esses capítulo sombrio da história de Salvador, ela publicou um último texto em seu blog intitulado como: "Escrevi para não Desaparecer".
Postar um comentário