Nunca planejei ser o rosto de nada.
Não fiz parte de partidos, nunca pedi seguidores e nem imaginava que um dia alguém colocaria meu nome em manchetes que não fosse como autora.
Comecei digitando em um notebook no meu quarto, com medo, sozinha.
Assinei textos com pseudônimos, escondi arquivos em pen drives dentro de panelas, de livros e até debaixo da terra.
Escrevia à noite, apagando rastros, com a luz da tela como única testemunha.
O "Olhos da Verdade" não nasceu como grupo, nasceu como grito. Nasceu do desespero de ver a cidade que eu nasci e cresci indo embora, nasceu da necessidade de contar o que vi, de não permitir que o absurdo se tornasse normal. E quando outros olhos começaram a ver comigo… deixei de estar sozinha.
Cada mensagem recebida, cada documento achado, cada arquivo vazado por alguém com medo, mas com coragem suficiente para apertar “enviar”, tudo isso construiu a rede que chamaram de resistência.
Mas para mim, era só jornalismo.
Não sou heroína, Sou jornalista. E jornalistas só têm um dever: contar o que tentam esconder.
Se me perguntarem como vencemos, respondo com sinceridade: não vencemos, o que fizemos foi acender a luz, nem que fosse por um segundo. Apenas mostramos a cara do monstro.
E agora cabe a vocês não deixarem que ele volte com outro nome, outra cor, outro rosto e outro discurso disfarçado de salvação.
A censura não começa com silêncios, começa com sussurros, com aquilo que você deixa passar, com o medo de parecer radical, com a ideia de que alguém “está exagerando”. Se hoje posso escrever com meu nome, é porque um dia escrevi sem ele.
Os olhos da verdade agora são de vocês e Guardem bem isso:
"Quando todos fecham os olhos, abrir os seus já é um ato de resistência.”
Assinado: Glória Franco
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